Detalhes
A saída de Ed Motta da multinacional Universal em direção à nacional - e supostamente mais íntegra - Trama sinalizou não apenas uma mera manobra mercadológica. Tanto que Poptical, disco produzido por Ed Motta para estrear no novo selo, é na verdade a inauguração de uma nova fase na carreira do cantor. E nada melhor que começar uma fase nova em uma casa nova. Depois da viagem instrumental/experimental de Dwitza (2002), Ed Motta recua, sem saudosismo, à síntese pop-jazzistica-black que cristalizara em Manual Prático para Festas, Bailes e Afins (1997). Mas recua mantendo em mente as possibilidades exploradas em Dwitza. É como se, tendo contemplado todo um universo polvilhado de referências e influências no disco anterior - o jazz afrocêntrico, a canção popular norte-americana, o samba-jazz, e até o rock - Ed Motta voltasse os olhos para seu "velho ofício" com uma sabedoria renovada, uma sofisticação ainda maior. Poptical é portanto o Ed Motta de Colombina e Falso Milagre do Amor de volta. Mas é uma volta mais malandra, e nem por isso menos cosmopolita.
Cosmopolita e gregário pois Poptical vem recheado de parcerias e participações. Algumas das uniões acabam (re)despertando em Ed Motta um pouco do que a trip de Dwitza tinha ocultado; o dom para o suingue fácil, a fusão de várias referências sonoras numa única e coesa melodia pop. É o caso da parceria com o onipresente Seu Jorge, em Tem Espaço na Van, ou na contribuição de Nelson Motta em Minha Casa, Minha Cama, Minha Mesa. Cada qual em seu campo - a primeira um balançado funk, a segunda um R&B mais lento, tingido de groove de samba-jazz - essas músicas exemplificam o que Ed Motta tem de melhor como compositor pop. Sem pretensões, sem forçar a barra. Já a união com os "artistas reunidos" Jair Oliveira (Pra Se Lembrar) e Daniel Carlomagno (Que Bom Voltar) resulta menos espontânea, carregada de um falso suingue quase caricatural; talvez seja excesso de cerebralidade, vontade de empacotar mais referências e pegadinhas estilísticas do que as canções comportariam. Quando quer, Ed Motta pode soar sofisticado sem perder o que há de espontâneo em si. A prova são as belas The Rose That Came to Bloom e Fox do Detetive, que, mesmo encharcadas de flair hollywoodiano, exalam também naturalidade. Ou nas pequenas incursões mais jazzisticas, que surgem aqui e ali (Quem Pode Surpreender?, Rainbow's End). Sente-se que Ed Motta d.D. (ou seja, depois de Dwitza) já é outro. Mais seguro, sabendo que pode atingir a tão sonhada sofisticação sem alienar os que curtem suas composições no rádio e nas pistas. Resta apenas dosar as quase incontroláveis facetas de sua inquieta musicalidade.