Detalhes
O MPB4 tomou esse nome quando a sigla estava ainda em vias de ganhar a acepção que comumente lhe damos hoje. É uma definição de não-gênero (ou de quase-gênero) que engloba a produção de música popular feita no Brasil por autores e intérpretes majoritariamente oriundos da classe média letrada. O termo, de certa forma, se opunha, em seus começos, às formas importadas do pop internacional, às versões de música estrangeira e à criação popularesca de aspecto fácil ou vulgar. Com o passar do tempo, esse critério de discriminação foi mudando de forma e hoje, como diz uma locutora da rádio MPB FM, "MPB é tudo". Mas não é exatamente uma expressão que abarque o que indicam as iniciais que a formam: não significa, para quem a pronuncia ou a ouve, "música popular brasileira". Assim, você pode ouvir alguém perguntar se alguém é "axé ou MPB", "sertanejo ou MPB", mesmo "popular ou MPB". O quarteto de Niterói, que ajudou a forjar o conceito, nunca se restringiu a ele. Na verdade, criadores não cabem nem mesmo nos rótulos que se autoimpõem. Em muitos momentos da minha vida, amei o termo MPB por causa do conjunto, de sua história, de sua integridade, de sua rica despretensão. Se tomássemos os termos "música", "popular" e "brasileira" e nos perguntássemos sobre eles à audição do quarteto, sentiriamos que cada termo lhe é perfeitamente adequado. Desde a sua fundação (e atravessando os anos de colaboração com Chico Buarque) esse conjunto tem sido a voz do Brasil. Sem procurar emular as harmonizações do tipo americano dos grupos vocais dos anos 1940/50, eles criaram um estilo flexível e relaxado, atributos tão tipicamente brasileiros. À medida que o próprio termo que eles tomaram para apelido foi se abrindo para searas variadas, eles foram, sem alarde, aprofundando o olhar sobre nossa tradição viva (não nossa tradição oficializada ou fossilizada). Ouvi-los cantar boleros em versões para o português é reconhecer a profundidade com que a canção americana de língua espanhola entrou na alma das pessoas da nossa geração. Quem sai homenageada é a tradição de versões de boleros de que a verdadeira MPB pode se orgulhar. O bom gosto dos arranjos (onde o violão brasileiro aparece com sua delicadeza, sem deixar de honrar a garra de violões à Los Panchos) comprova a sinceridade e o carinho com que essas canções foram abordadas. São os caras de Niterói dizendo a cada um dos artistas que os ensinaram a fruir as belezas que vinham do México ou de Cuba, adaptando-as à língua portuguesa. Sinto ternura e orgulho por participar desse projeto tão rico, tanto musical quanto historicamente.